sexta-feira, 20 de julho de 2012


O LOUCO
Um ótimo texto de Gibran Khalil Gibran, intitulado "O Louco", defende, com uma bela alegoria, que a individualidade deve ser respeitada e estimulada. Ele chega a empregar a metáfora da divisão do mundo em dois, ambos loucos, sendo que o do jovem que está no asilo, o dos "loucos sozinhos", é mais coerente e autêntico, segundo ele deixa transparecer.

A parábola tem a intenção direta de criticar todos nós pelo hábito de julgar os outros, segundo nossos parâmetros, o que concordo. O rapaz foi parar no hospício, atormentado porque as pessoas queriam que ele agisse dentro do comportamento que cada um enxerga como ideal. As pessoas não devem esperar que as outras ajam segundo seus critérios e deviam aceitar a individualidade de cada um. O relacionamento humano seria bem melhor se todos realmente fossem assim. Por outro lado, a total "aceitação de cada um como ele é" não estimula a contradição, fator importante para constantemente amoldarmo-nos e "forçarmos" os outros a se amoldarem, também, numa direção de consenso mínimo que permita fazer alguma coisa em conjunto, com proficiência.

Mas a ficção de Gibran tem, também, um viés isolacionista ao citar que o rapaz preferia ficar ali como um louco, sozinho, para poder ser ele mesmo. Discordo desse ponto de vista porque faz parte da complexa natureza humana receber toda a enorme carga de influências, boas e más, processá-las, amalgamar-se continuamente na construção da sua individualidade, e interferir, também, nessas realidades relativas, para participar da sua transformação. Como disse nosso grande poeta Cazuza, ... "O mundo não para não...".
 
Isolar-se num canto para ser "eu mesmo" é coisa de louco mesmo. Atitude desprovida de sentido, uma vez que se perde o referencial comparativo. Como eu posso dizer que sou "eu mesmo" se me isolei e não sei mais como são os outros, que estão sempre mudando? Segundo Baltasar Gracian, "É melhor estar louco com todos, que ter juízo sozinho." Ao que um grande amigo, André Lopes, acrescentou: "Quero a certeza dos loucos que brilham. Pois se o louco persistir na loucura, acabará sábio."
 
Prefiro continuar sendo o louco do "hospício do outro lado da muralha".

sexta-feira, 13 de julho de 2012